domingo, 3 de janeiro de 2016

AJALON - MERGULHO - parte 2

Sirenes. Luzes vermelhas. Virou de leve a cabeça. Sangue! A quem pertencia aquele sangue espalhado sobre o asfalto? Deborah... Ele a viu. Seu peito subia e descia, profunda e rapidamente. Desesperado, numa busca por vida. Pessoas se debruçavam sobre ela, tentando ajudá-la. Luzes ofuscaram seus olhos, e ele não a viu mais.

─ Deborah! — ele gritou, levantando-se abruptamente, com o coração aos pulos. A angústia, sua velha conhecida, voltou!

Sua respiração ofegava, e ele tentou controlar as emoções perturbadoras.

Foi então, que sentiu a presença dela. Não, não a de Deborah e sim, outra.

Sentada, a mulher que havia resgatado do acidente na estrada, olhava para ele. Os olhos estavam assustados. Úmidos. Olhos cor de avelã. Desconcertantes.

─ Deborah, sou eu?

Ele apenas a encarou, ainda confuso, — pelo sonho, por ela e pelo momento.

─ É esse o meu nome?

Joshua estava sem palavras. Recuperava-se devagar e aquela nova presença exigia um rearranjo. Lentamente, foi relaxando, mas a tensão persistia na atmosfera.

Ela não lembrava o próprio nome?

─ Não... quero dizer. Não sei. Você não se lembra? — perguntou suavemente.

Ela assombrou-se com a pergunta.

Eram iridescentes, os seus olhos. Percebeu alguns poucos reflexos dourados espalhando-se na superfície brilhante e circular em ondas tumultuadas, à medida, que suas emoções afloravam.

─ Como assim? Você não sabe meu nome?

Joshua entendeu seu conflito e angústia. Havia levado uma pancada na cabeça e acabara de acordar ao lado de um desconhecido, e, talvez, imaginasse que tivessem algum tipo de vínculo. Esperava respostas dele.

─ Não, mas... — ele a tocou de leve no braço, numa tentativa de transmitir-lhe conforto, mas ela afastou-se.

Ela passou a analisar atentamente o ambiente, numa tentativa de reconhecer algo. Olhou para si mesma, notando o vestido de renda e cetim, e por fim, voltou o olhar para ele, o homem que presenciara seu irromper naquelas águas desconhecidas, em um nascimento espantoso. Sem perceber, sua respiração estava suspensa — numa apneia —, enquanto fazia seu mergulho de reconhecimento. Quem era? O que fazia ali? E quem era ele? Entreabriu os lábios e respirou profundamente. A única coisa, que sabia nesse instante de descobertas e imprecisão, era que, ele havia se tornado o elo, que a amarrava àquela nova realidade. O problema, refletiu, era que parecia tão perdido quanto ela própria.

─ Você sofreu um acidente. Eu a resgatei... mas como estamos em meio a uma nevasca não houve como transportá-la para o hospital ─ Joshua explicou, tentando ser o mais compreensível e breve possível para não confundi-la ainda mais. 

Ela mastigou suas palavras. Então, instintivamente levou a mão à cabeça, tocando o inchaço, e fez uma careta. O homem afastou sua mão da testa com gentileza.

─ Melhor não tocar isso. Dói muito?

Ela acenou.

Ele levantou-se da cama e voltou-se para ela. Pegou o travesseiro que havia usado e colocou sobre o dela, para que se recostasse.

─ É melhor  que descanse. Quer beber alguma coisa. Um chá? ─ de repente, se deu conta que poderia não ser uma boa ideia que ingerisse ou comesse qualquer coisa naquele estado.

Ao invés de responder, ela perguntou:

─ Quem é você?


─ Joshua. Joshua Ketch. Agora descanse.

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