Sirenes. Luzes vermelhas. Virou de leve a
cabeça. Sangue! A quem pertencia aquele sangue espalhado sobre o asfalto?
Deborah... Ele a viu. Seu peito subia e descia, profunda e rapidamente.
Desesperado, numa busca por vida. Pessoas se debruçavam sobre ela, tentando
ajudá-la. Luzes ofuscaram seus olhos, e ele não a viu mais.
─ Deborah! — ele gritou, levantando-se abruptamente,
com o coração aos pulos. A angústia, sua velha conhecida, voltou!
Sua respiração ofegava, e ele tentou controlar as
emoções perturbadoras.
Foi então, que sentiu a presença dela. Não, não a de
Deborah e sim, outra.
Sentada, a mulher que havia resgatado do acidente na
estrada, olhava para ele. Os olhos estavam assustados. Úmidos. Olhos cor de
avelã. Desconcertantes.
─ Deborah, sou eu?
Ele apenas a encarou, ainda confuso, — pelo sonho, por
ela e pelo momento.
─ É esse o meu nome?
Joshua estava sem palavras. Recuperava-se devagar e
aquela nova presença exigia um rearranjo. Lentamente, foi relaxando, mas a
tensão persistia na atmosfera.
Ela não lembrava o próprio nome?
─ Não... quero dizer. Não sei. Você não se lembra? —
perguntou suavemente.
Ela assombrou-se com a pergunta.
Eram iridescentes, os seus olhos. Percebeu alguns
poucos reflexos dourados espalhando-se na superfície brilhante e circular em
ondas tumultuadas, à medida, que suas emoções afloravam.
─ Como assim? Você não sabe meu nome?
Joshua entendeu seu conflito e angústia. Havia levado
uma pancada na cabeça e acabara de acordar ao lado de um desconhecido, e,
talvez, imaginasse que tivessem algum tipo de vínculo. Esperava respostas dele.
─ Não, mas... — ele a tocou de leve no braço, numa
tentativa de transmitir-lhe conforto, mas ela afastou-se.
Ela passou a analisar atentamente o ambiente, numa
tentativa de reconhecer algo. Olhou para si mesma, notando o vestido de renda e
cetim, e por fim, voltou o olhar para ele, o homem que presenciara seu irromper
naquelas águas desconhecidas, em um nascimento espantoso. Sem perceber,
sua respiração estava suspensa — numa apneia —, enquanto fazia seu mergulho de
reconhecimento. Quem era? O que fazia ali? E quem era ele? Entreabriu os lábios
e respirou profundamente. A única coisa, que sabia nesse instante de
descobertas e imprecisão, era que, ele havia se tornado o elo, que a amarrava
àquela nova realidade. O problema, refletiu, era que parecia tão perdido
quanto ela própria.
─ Você sofreu um acidente. Eu a resgatei... mas como
estamos em meio a uma nevasca não houve como transportá-la para o hospital ─
Joshua explicou, tentando ser o mais compreensível e breve possível para não
confundi-la ainda mais.
Ela mastigou suas palavras. Então, instintivamente
levou a mão à cabeça, tocando o inchaço, e fez uma careta. O homem afastou sua
mão da testa com gentileza.
─ Melhor não tocar isso. Dói muito?
Ela acenou.
Ele levantou-se da cama e voltou-se para ela. Pegou o
travesseiro que havia usado e colocou sobre o dela, para que se recostasse.
─ É melhor que descanse. Quer beber alguma
coisa. Um chá? ─ de repente, se deu conta que poderia não ser uma boa ideia que
ingerisse ou comesse qualquer coisa naquele estado.
Ao invés de responder, ela perguntou:
─ Quem é você?
─ Joshua. Joshua Ketch. Agora descanse.
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