quinta-feira, 4 de junho de 2015

A CASA - CAPÍTULO 6

─ Ana, você está me evitando?

João aproximou-se dela, enquanto saia da loja.

Ela cruzou os braços diante do corpo e não encontrou palavras.

─ O que aconteceu? Precisamos conversar.

Estendeu a mão para tocá-la no braço, mas ela esquivou-se.

─ Não vai dar certo, João.

─ O quê?

─ Não vai dar certo...nosso relacionamento.

─ Você está me confundindo, Ana. Espera, vem comigo. Vamos conversar.

─ Não, já decidi.

─ Você não vai nem me dizer o motivo?

Ela não o olhava nos olhos. As pessoas passavam por eles na calçada, e ela sentia-se tentada a acompanhá-las, sem dar a ele maiores explicações. Simplesmente, deixá-lo para trás.

─ Estou trabalhando e estudando muito, não tenho tempo para... nós.

Ele deu um sorriso amargo.

─ Sei. Se é assim, então, não houve ‘nós’, em nenhum momento. Era eu, só.

Ele deu as costas para ela e se foi.

Ela cobriu a boca com a mão. Estava chocada com o que havia acabado de fazer. De repente, lembrou-se, que havia visto ele com outra moça. Ele estava jogando com ela. E, claro, ela saiu perdendo. Queria ignorar os sentimento que gritavam dentro dela. Sentia-se tão ligada a ele. Mas, teria que conviver com eles por algum tempo. Quem sabe, conseguiria esquecê-lo?


  

─ O quê? Você terminou com ele? Ao menos, perguntou quem era a garota com quem estava?

─ Por que eu faria isso, Jeane?

─ Ana, você, realmente é verde, no quesito relacionamento, hein? Se deixou levar pelo ciúmes. Já pensou que podia ser irmã, prima ou apenas uma amiga?

─ Duvido. Ele não tem irmãos.

Jeane deu de ombros e voltou a organizar as roupas da seção masculina. Um sentimento de inaptidão a invadiu. Sentira ciúmes, mas não foi apenas isso. Sua insegurança a estava corroendo. Tinha medo que ele descobrisse a verdade. Não sentia-se à altura dele, e depois, que o vira com àquela moça, teve certeza que iria se machucar.

Se concentrou nas suas mais recentes descobertas sobre a casa, para aliviar sua tristeza.

João entrou em casa, rapidamente e já estava no meio da escada quando foi chamado.

─ Meu filho, como você passa dessa forma por nós? Nem falou com Eduarda?

Ele parou, respirou fundo e desceu as escadas. Voltou até à sala, acompanhado por Melissa, e cumprimentou Eduarda e Graziela.

─ Desculpem-me. Estava distraído. Olá Eduarda! Como vai, Dona Graziela?

─ Bem, João, obrigada! – respondeu Graziela. ─ Vim convidá-los para virem este final de semana conosco, até a fazenda. Vai ser aniversário de meu marido e queremos comemorar apenas com os amigos mais íntimos. A família de Cidinha Veloso já confirmou presença. Geovanni terminou o mestrado em Medicina na Inglaterra, e também estará lá. Vocês podem conversar. Quem sabe, ele não te dá umas dicas sobre as Universidades de lá?   

Ele não estava ouvindo o que ela dizia, apenas via os lábios dela se mexendo.

─ Meu filho! Graziela está falando com você.

─ Me desculpe! Sim, claro! ─ disse ele, sem saber direito com o que havia acabado de concordar.

─ Fico feliz que você venha conosco, João ─ Eduarda o fez aterrissar.

João sorriu e censurou-se mentalmente pelo que acabara de fazer. Seria o final de semana mais longo de sua vida.




Ele não dormiu aquela noite. Não conseguia entender o que havia acontecido. Acreditava que Ana correspondia aos seus sentimentos, e então ela fazia aquilo. No início de seu relacionamento teve a impressão de que ela escondia algo dele, depois teve certeza. Isso, ele havia aprendido a discernir desde cedo. Sua própria família tinha seus segredos e que escondiam dele à sete chaves. Não havia descoberto ainda o quê. Mas o peso opressivo do que quer que fosse, pairava sobre ele. Sobre suas vidas. Toda aquela aparência de perfeição que sua mãe tentava criar e seu pai aceitava submisso, não o enganava.

Algo o dizia, que era o segredo de Ana, que fazia com que ela o quisesse longe dela. Havia ficado enfurecido com sua atitude com ele, naquela tarde. Tivera vontade de arrastá-la até o carro e obrigá-la a se explicar. Detestava a sensação de impotência e revolta, que acordava nele, quando tinha que lidar com pessoas que estavam, claramente, desempenhando um papel diante dos holofotes, enquanto levavam uma vida obscura e sorrateira nas sombras. Atores! Jamais renunciavam a seu papel! Morriam e matavam por ele.

Mas, logo, descobriria o que Ana tinha a esconder dele e a faria olhá-lo nos olhos por tê-lo enganado. 

Levantou-se de madrugada para correr um pouco, sentia a necessidade de exercitar-se, a fim de poder conviver com tanta frustração. Decidiu fazer o trajeto ao redor do quarteirão, até sentir que poderia terminar aquele dia sem explodir. Fez um breve alongamento e saiu. Alguns minutos depois, sentiu seu coração acelerar, e uma leve sensação de bem estar se instalar. Estava certo, o esforço lhe fazia bem.


Olhou à sua direita, e viu a construção antiga do Orfanato Menino Jesus. O sino da capela dobrou seis vezes, na última, ele já estava virando a esquina.  Deu mais cinco voltas no quarteirão, e entrou em casa. 


₢Gardenia Yud