Era devastadora a face daquela
peste, sem nome, a princípio, mas depois o único médico
da cidade o descobriu: varíola. E informou fatalista: sozinho, não sou páreo
para ela. O prefeito deveria buscar outros da capital. Homens corajosos e de
boa vontade, pois aquela enfermidade era cruel. E o fogo seria sua mão direita.
Roupas e pertences seriam incinerados para destruir os elementos que estavam
combinados ao ar para criar aquele monstro invisível causador de tantos males.
Quando veio a primeira baixa o médico quis também queimar o corpo ao que os
familiares e padre da cidade se opuseram. ‘Estás a exagerar!’
Quando
o número de enfermos começou a aumentar assustadoramente, o medo começou a insurgir,
e uma parte da população temerosa queria queimar, inclusive, as casas dos
enfermos. Um pandemônio se instalou em Filgueiras, e não haviam autoridades
suficientes para impedir a sanha da população. Quando o dono de uma casa onde
havia um enfermo atirou em um partidário dos incendiários, acreditou-se que um
pequeno levante se instalaria na cidade.
O
Conselheiro foi chamado a casa do prefeito, onde os líderes da cidade haviam se
reunido e eles decidiram por colocar todos os doentes de quarentena em uma
fazenda vazia, fora dos limites da cidade.
Assim
que o Conselheiro chegou em casa naquela noite, comentou com sua mulher e filha
à respeito da decisão que havia sido tomada. Jantaram e ele logo foi descansar,
pois sentia uma leve indisposição. No meio da noite, Maria acordou com gritos,
e ao alcançar o corredor viu Dona Ana e Adelaide em desespero. Portaglia saiu
do quarto principal segurando uma vela, e lançou um olhar grave à Maria. Um
frio percorreu sua espinha. Depois, olhando para Dona Ana, fez um gesto de
comiseração por seu marido, que encontrava-se enfermo, provavelmente da doença
que assolava a cidade. A mulher desmaiou e Maria correu para socorrê-la. Adelaide
se esquivou com olhos assustados e trancou-se em seu quarto.
Maria
e Portaglia conseguiram arrastar a mulher desmaiada para o único quarto vazio
que havia na casa.
—O
Conselheiro deverá ser levado para quarentena, o mais rápido possível, ou todos
acabaremos doentes, disse Portaglia à Maria.
Dona
Ana imediatamente voltou de sua inconsciência ao ouvir aquelas palavras.
—Meu
marido não vai a lugar nenhum. Ele será cuidado aqui mesmo. Mandaremos vir um
médico da capital para ele.
—Senhora,
eu entendo sua lealdade, mas essa é uma recomendação do conselho da cidade. O
próprio Conselheiro apoiou tal ideia. A senhora pode acabar contaminada. E os
médicos da capital virão, mas ainda não sabe-se quando.
Ela
o olhou em horror.
—Vá
chamar o médico, agora! – ordenou histérica.
O
médico da cidade chegou à casa dos Caldas Brandão terrivelmente exasperado. Portaglia
havia insistido que ele convencesse a senhora da casa a fazer o que era certo.
Mas a despeito de todas as argumentações de que a enfermidade poderia ser
fatal, Dona Ana não foi persuadida: Maria, Portaglia e os outros empregados
cuidariam do Conselheiro. Para isso eram sustentados. Ela e Adelaide ficariam
em um quarto separado do dele. O médico riu sarcástico da decisão da mulher.
‘Essa enfermidade não respeita paredes, mas faça como quiser. ’ Antes de deixar
o palacete, explicou a Portaglia e Maria que jamais deveriam entrar no quarto
sem cobrir seus rostos, nem falar próximo ao doente. ‘E jamais toquem no fluido
doentio que sai dos caroços de seu corpo. ’
—Que
caroços? – perguntou Portaglia.
—Você
vai ver.
Antes
de sair, o médico lembrou-se de mais uma recomendação.
—Queimem!
Queimem todas as roupas que sair do corpo dele e que forem contaminadas pelo
fluido das bolhas. Essa doença não se afasta com água, apenas com fogo.
No
outro dia, ao saber do que se passava na casa, os outros empregados desertaram.
Portaglia ciente do perigo que corria, começou a evitar os cômodos da casa, mas
Maria penalizada pelo abandono que o Conselheiro sofria e acostumada a cuidar
de enfermos, cobriu o rosto e cautelosamente entrou no quarto, temerosa do que
ia encontrar.
O
homem estava de olhos fechados. Ao aproximar-se, Maria assustou-se com o que
viu. Manchas vermelhas haviam tomado seu corpo e algumas bolhas estavam
espalhadas por sua face. Pressentindo sua presença, ele abriu os olhos.
—Água,
— foi tudo o que disse.
Maria
encheu um copo que estava na cabeceira da cama com água e ajudou-o a ingerir o
líquido. Depois, ele novamente fechou os olhos. Ela deixou o quarto preocupada.
Com ele e também com ela.
—Vamos
todos morrer, se ficarmos aqui.
Ouviu
Portaglia, que estava encostado à parede do lado de fora do quarto.
—O
que sugere? Que o abandonemos?
—Sugiro
que nos salvemos! Ele era para ter sido levado a quarentena com os outros, não
vê?
Um
grito que mais parecia um uivo foi ouvido, vindo do jardim da casa.
Ao correrem até lá, encontraram Adelaide
horrorizada. Dona Ana estava desfalecida.
—Ela
está doente!
Ao
tocarem a mulher inconsciente, sentiram sua pele arder em febre. Colocaram-na
junto ao marido, numa tentativa de reduzir os espaços da enfermidade. Mas foi
um esforço inútil. Logo Adelaide juntou-se ao casal. A visão da enfermidade em
sua forma mais crua deixou a moça desesperada. E Maria não sabia se a razão era
a proximidade com a morte ou a inevitável perda de sua beleza. ‘As francesas
podem curar minha pele, vou visitá-las’, dizia alienada pela febre e dor. Dona
Ana implorou e Maria trouxe o padre para rezar pela recuperação da família. Mas
ele não passou pelos umbrais da casa, recitou suas rezas do lado de fora,
respingou água benta no pórtico e deixou rapidamente a mansão dos Caldas
Brandão.
—Vou
acabar queimando todos os lençóis da casa e não nos sobrarão mais nada. Procure
uma bananeira. Me traga suas folhas Portaglia — pediu Maria.
—Somos
os próximos, sabia? Quem vai cuidar de nós? — era a única coisa na qual ele
podia racionalizar.
—Quem
vai cuidar de mim, você quer dizer, não é? – Maria o enfrentou pela primeira
vez, ‘pois eu sou a única a entrar naquela quarto’.
Ele
deu de ombros. — ‘Porque quer. Se fossemos nós dois os doentes, eles já nos
teriam jogado na quarentena, e ouvi falar, que todos os que lá entram, morrem
ao quinto dia’.
O
cheiro de fumaça enchia o ar da cidade. As pessoas haviam abandonado as ruas
por medo dos miasmas. Portaglia carregou as folhas de bananeiras para a casa
dos Caldas Brandão, ainda sem entender o que Maria faria com aquilo. E quando
ela o pediu para ajudá-la a forrar as camas dos enfermos com elas, ele se
esquivou em fúria. ‘O quê? Tá louca? Eu não entro lá de jeito nenhum.’
—Você
vai me ajudar!
O
tom de Maria foi tão autoritário que o anão cedeu, cobrindo o rosto com o
tecido branco e limpo que ela o entregou para aproximar-se dos doentes. Ao ver
a família enferma, por pouco não correu. As pústulas cobriam toda a pele dos
patrões. Duvidou que sobrevivessem. A verdade era que, o Conselheiro já estava
próximo dos portais do paraíso. Caroços recobriam as mucosas de seu nariz
dificultando sua respiração. Se durasse mais um dia, era muito. Dona Ana logo o
seguiria, pois era mulher frágil de corpo e espírito. Apenas Adelaide resistia
um pouco mais, e em seus delírios era tratada, não pelas mãos de Maria, mas pelas
das francesas, que restituíam à sua pele a perfeição. Maria, que cobrira os
espelhos do quarto, confirmava a crença da moribunda.
Portaglia
deixou o quarto horrorizado diante do que viu, e sumiu da casa, só reaparecendo
dois dias depois, para ajudar Maria a arranjar o enterro do casal. Ela estava
quase à beira de um colapso nervoso.
—Estou
com dois cadáveres desde ontem aqui. Não posso fazer tudo sozinha, seu
desalmado.
Ele
olhou-a frio e deu-lhe às costas. Os ritos fúnebres foram rapidamente realizados,
como era exigido pelas conjunturas nas quais viviam, e tiveram apenas o padre, o
prefeito e o anão presentes. Mal terminada a cerimônia, o prefeito enviou uma
carta à capital para que providenciassem a vinda de outro Conselheiro.
À
noite, para esquivar-se um pouco daquele cenário de horror no qual vivia,
confinada a casa ou junto à Adelaide, que morria e revivia, Maria encaminhou-se
até a janela da sala e abriu-a na intenção de avistar a lua, ou qualquer
indício da natureza que fosse favorável a vida. Em vez disso, avistou ao longe
as labaredas se elevarem, dando um aspecto alaranjado aos termos da cidade. O
fogo tentava combater as emanações da enfermidade. A fumaça escura e viciosa
subia aos céus, tornando-os, ainda mais, sombrios, e o som de choro e lamento
enchia o ar junto com os miasmas da varíola. Um sentimento funesto tocou-lhe a
alma.
Ao
perceber que as ruas eram tão opressivas quanto o interior da casa, começou a
fechar a janela, mas interrompeu a ação, quando um movimento diante do portão
chamou-lhe atenção. Uma sombra alta e escura caminhava lentamente de um lado
para o outro. A curiosidade moveu seus pés. Ela deixou a luz alaranjada do
lampião para trás e misturou-se as sombras da noite. Seus passos atravessaram a
alameda frontal da casa e alcançaram as grades de ferro, contra as quais ela
pressionou a face na tentativa de enxergar o que era aquilo que flutuava, lá e
cá.
Foi
então que sentiu seu braço ser cutucado, e ao tentar puxá-lo, seu pulso foi
agarrado pela mão de ferro de um grande pássaro. Se a enfermidade deformadora e
pútrida com seu terror não tivesse consumido sua retina, ela duvidaria daquela
visão. Mas seus olhos haviam sofrido uma tão grande metamorfose, acostumando-se
a feiura daqueles tempos de horror em que viviam, que por mais perturbadora que
fosse a figura, sabia que era verdadeira. Ela pertencia aquele mundo que a
rodeava. A morte havia encarnado na forma de um pássaro negro, gigante e
ameaçador e estava ali para buscá-la.
O
odor de rosas e cânfora espalhou-se pelo ar, acordando seu instinto de
sobrevivência e levando-a a puxar o braço de entre as grades do portão e
soltar-se da violência recurva que agarrava sua carne. Os olhos vítreos se
fixaram nela e por um instante acreditou que o pássaro arrancaria os dela com
seu bico negro e lustroso, mas de repente, ele a libertou. Ela caiu de costas e
assim permaneceu, em assombro, enquanto ele se afastava. Talvez, pensou ela,
não fosse seu dia. A morte a deixou viver.
Ela
se levantou, correu para dentro da casa e bateu a porta atrás de si, deslizando
até o chão sem forças.
Uma
vela acesa veio em sua direção. Onofre Portaglia parou diante dela. A luz
bruxuleante iluminava seus olhos azuis arrogantes, mas desta vez havia neles,
um brilho enigmático, esquadrinhador, e como tudo o mais que a envolvia, ela o considerou
bizarro.
—O
que há com você? — perguntou com sua habitual irritabilidade e dada a sua
insensibilidade, duvidou que se importasse.
Ela
levou a mão trêmula ao rosto. ‘Eu vi a morte’, Portaglia ouviu-a sussurrar
aterrorizada. Uma sucessão de palavras escapou aos borbotões de sua boca.
—A
morte está nas ruas. Tentou me arrebatar para a sepultura. Um pássaro negro,
gigante e impiedoso.
As
frases desconexas saíam de seus lábios aterrorizados e seus olhos ainda estavam
hipnotizados pela figura bizarra. Ao ver que o descontrole se apossava dela,
ele desferiu um frio, ‘controle-se, Maria.’
—Você
viu apenas os médicos da peste, os
homens pássaros. Chegaram essa manhã, enviados pelo governo. Agem como se
fossem nossos salvadores com suas canas mágicas para virar moribundos. Mas eles
não podem nada. A tragédia que se abateu sobre nós, só nos deixará depois que
tiver cumprido sua missão.
—Homens
pássaros?
Ele
deixou-a sem fornecer outras informações. Era típico dele, falar apenas o
necessário e quando era de seu interesse.
Sentia-se
alquebrada. Reuniu forças e levantou-se do chão. Tomou um chá para acalmar-lhe
os nervos. Encheu uma garrafa com água fresca e foi até ao quarto dos Caldas
Brandão para substituir a que estava lá desde o dia anterior. O quarto estava silencioso.
Adelaide estava quieta e de olhos fechados.
Maria
sentou-se na poltrona ao lado e adormeceu, vencida pelo cansaço e temor, mas,
apenas um instante, pois acordou com os murmúrios da moça, que chamava pela
mãe. Maria foi até o leito, afastou o cortinado de gaze branca e viu a moça
agonizar. Sua respiração era rápida e superficial, ela buscava o ar, mas ao
invés de ele entrar, saia de seus pulmões, a ela arfava como se estivesse sendo
desinflada. A vida escapava de seus lábios entreabertos, deixando a casca
doente em busca de liberdade. Mas a vontade férrea de Adelaide ainda tentava
impedi-la de deixá-la.
Era
quase impossível para ela abrir os olhos, pois as vesículas impediam os
movimentos de suas pálpebras, mas Maria sabia que ela a tinha visto, pois numa
tentativa sobre-humana, estendeu para ela a mão, em um pedido de socorro. O
gesto foi fugaz. A mão caiu pesada sobre o leito. E Adelaide capitulou para a
varíola.
Maria
tinha sua respiração suspensa, o ar preso em seu peito. Correu até a janela,
abriu-a e arrancou o lenço do rosto. Respirou fundo e depois deixou o quarto
contaminado com a morte.
—Portaglia,
temos que providenciar o enterro de Adelaide.
Ele
levantou os olhos para ela.
—E
depois?
—Depois
o quê?
—Para
onde vamos?
—O
que tem isso agora? Vemos isso depois.
—O
novo Conselheiro vai chegar.
—Sei.
—Não
temos dinheiro, nem para onde ir nessa terra de trevas.
Maria
suspirou. Por que ele a importunava com aquele assunto num momento tão
inoportuno? Já não bastava o peso que tivera que carregar até ali? Ela deu as
costas para ele e voltou para dentro da casa. A função dela era velar pelos
doentes, o dele enterrar os mortos. Ela já havia cumprido sua missão.
Entrou
no quarto segurando um pano contra o rosto e começou a pensar no que faria
depois. Portaglia entrou e olhou para o corpo de Adelaide. Desviou o olhar transtornado, e encarou a
face pálida de Maria.
—Eu
falei ao padre que você estava doente.
Maria
enrugou a testa.
—Deus
me livre de uma coisas dessas.
—Eu
disse que você estava morrendo.
O
estômago dela embrulhou.
—E
que Adelaide, estava melhor... ele ficou feliz... por ela, digo. E triste por
você.
Os
olhos de Maria se arregalaram.
—Por
que você faria tal coisa?
—Será
que eu tenho que explicar tudo para você? – perguntou irritado. —Não vê nossa
condição?
—Você
é sinistro. — o olhar de Maria finalmente compreendendo a trama dele. – Acha
que vou cooperar com seu crime?
—Crime?
Crime é sermos lançados a rua, sem sermos retribuídos por nossos esforços. O
que vai fazer de sua vida? Agora é a nossa hora, Maria. Não vê?
Os
olhinhos maquiavélicos brilhavam. Sua voz soava como se estivesse fazendo uma revelação
messiânica. Mas ela não conseguia admitir com o gênio que possuía as palavras
dele. E sua primeira reação foi de negação. ‘Quem ele pensava que ela era?’
Adelaide
estava ali entre eles, deitada na cama de dossel, coberta por folhas de
bananeira. A febre a tinha deixado e ela era agora uma estátua, clássica e
fria, cuja pele formosa fora maculada pela varíola. Não tinha nem mesmo a
decência de respeitar o cadáver ao fazer-lhe tão indecorosa proposta! Que os
ouvidos de sua alma não os ouvissem! O que ele desejava? Que a ira de Deus se
voltasse contra eles e fossem os próximos da fila a receber aquela doença
horrorosa?
—Quem
sabe não é este o momento de teu destino ser corrigido? Para onde você vai
daqui? Servir outra Adelaide rude, e ter um fim triste, como o de todos os
virtuosos? É sua chance de ter um nome, que não seja gentil. Pare de aceitar
estoicamente as privações da vida.
—Pare
de me tentar!
—Para
as mãos de quem vai toda essa fortuna, já pensou nisso? Os parentes são tão
distantes que jamais serão encontrados. O governo vai se locupletar com o que
já tem demais.
A
vela que estava no criado-mudo ao lado da cama de Adelaide, tremulou e apagou,
deixando-os rodeados por uma atmosfera mais tenebrosa ainda.
—Está
vendo? Ela ouviu! Deus nos livre de tamanha blasfêmia!
—Ela
está morta, Maria! Não precisa mais do dinheiro, ou do nome, onde está.
A
voz dele vindo das sombras deixou-a mais assustada do que já estava. Acreditou
que o anão estava possuído. Que Deus a livrasse de dar ouvidos a ele, correu do
quarto e foi em busca de outra luz. Ele foi em seu encalço. ‘Não há tempo para
isso. Escuta, Maria! Amanhã estarão aqui para levar o corpo! E depois virão nos
expulsar. O outro Conselheiro e sua família, com seus serviçais, chegarão. Não
há lugar para nós. ’
A
vozinha persistente e cheia de maquinações não calava, e sabia que poderia
vencer a vontade da mulher já tão solapada pela escuridão. O futuro para ele
era incerto, e para ela mais ainda.
—Você
percebe o que quer que eu faça? Usurpe uma identidade, uma família, uma
herança!
—Os
mortos não precisam de nada disso. Não vê que estamos em um tempo que trouxe
terror repentino, mas que nos poupou? Ele nos está sendo propício. Mas vai
passar. E você vai ter um longo tempo de arrependimento pela oportunidade perdida.
Num
gesto dramático ele puxou a cortina da janela do corredor sobre seu rosto.
—Vê?
Cubra seu rosto! Esconda-o. As pessoas vão entender. A antes formosa Adelaide
não deseja ter seu rosto cheio de marcas visto. E, depois, vocês não eram tão
distintas assim, apenas a riqueza dela colocava um abismo entre vocês.