quarta-feira, 6 de abril de 2016

AS AVENTURAS DE LADY BEATRIX - parte 2

—Você veio a nossa cidade para ajudar um malfeitor, e por isso, também será punida.
Ainda desnorteada, Bee foi levada para a cidade juntamente com Billie. Foram encarcerados em celas separadas, até que fosse decidido o tipo de pena que pegariam.
Boquiaberta, ela ouviu o veredito daquele julgamento corrupto. Billie seria enforcado como um exemplo para aqueles que tentassem se esquivar de cumprir acordos firmados entre cavaleiros e ela tomaria o lugar dele na padaria de Monsieur Pierre. Não se compadeceu tanto por si mesma, mas estava destroçada por Billie.
Se soubesse que entrar naquela vila que era conhecida por ser habitada por gente amigável e alegre, terminaria em tamanho desastre, teria passado de largo.
A sentença seria aplicada no dia seguinte, e ela estaria presente para não se esquecer do que poderia acontecer-lhe, caso tentasse se esquivar da padaria de Monsieur Pierre.
O cadafalso estava posto à praça pública, a multidão aglomerava-se para assistir ao espetáculo bizarro como se estivesse em um circo de horrores.  O pobre Billie, de mãos amarradas atrás das costas, subiu a estrutura de madeira com uma dignidade que a comoveu. Ela jurou a si mesma que não olharia para ele quando seus pés estivessem agitando no ar em desespero pela última gota de vida. Os olhos verdes encaravam o espaço à sua frente em uma tranquilidade quase inumana.
Um homem vestido de vermelho subiu o cadafalso com um tambor pendurado em seu pescoço por uma tira de couro. Baqueteava o ritmo dos últimos momentos de Billie. Bee não conseguia deixar os olhos do rapaz e então percebeu uma mudança neles. Os globos oculares pareciam que ia saltar das órbitas. Seria temor? Não. Era surpresa?! Com algo mais. Esperança.
Não apenas ela, mas todas as cabeças se viraram para onde olhava Billie.
Era apenas um homem.
Simples. Ordinário. Roupas de agricultor. Cabelos e barba grisalhos. Mas havia algo extraordinário. Um cajado de madeira e o olhar intimidador. Ele andou entre a multidão que foi abrindo passagem para ele.
Um sussurro aqui, outro ali, e da cela para animais de onde estava, ela pode ouvir pedaços de sentenças. O cultivador de sicômoros, disse um. O que veio fazer aqui? Perguntou outro. Perturbar-nos com suas palavras, é só o que faz em nosso meio, respondeu uma mulher amarga, que em seu vestido de festa percebeu que a diversão teria um desfecho diferente do que esperava.
O cultivador de sicômoros. Parecia animador, pensou Bee.
Conde Pauli, colocou-se diante do homem e perguntou.
— Veio assistir a sentença, Amós?
O homem rústico — de vestes e gestos—, afastou o prefeito para o lado com o braço talhado pelo trabalho duro e prosseguiu até subir o cadafalso.  Olhou para o tocador de tambor que intimidado baixou os olhos, e depois para Billie. Removeu do pescoço do rapaz a corda grossa.
O Conde não se deu por vencido. Subiu apressado ao palco-tablado que havia montado e ordenou.
— Pare! Pare! Não pode chegar aqui e decidir o juízo. Ele foi julgado e sentenciado a morte.
O olhar do cultivador de sicômoros era grave.
O conde levantou o queixo e arrematou.
— Foi justo! Um julgamento justo.
— Eu conheço sua balança — Bee ouviu pela primeira vez a voz possante do homem polêmico. Virou-se para a multidão e seus olhos pareceram relampejar. — Vocês tornam o juízo em absinto, arrastam por terra a justiça e destroem os miseráveis da terra. Não se condoem do próximo, mas buscam oportunidade para pesá-los e vendê-los. Aos inocentes pervertem o caminho para levá-los a morte e à vossas mulheres, cobrem com joias roubadas, enquanto espezinham mais o pobre.
A mulher com vestido de festa abriu seu leque e começou a abanar-se: ‘ Que linguajar precário! Temos mesmo que suportar isso?’
—À partir deste dia, não há mais ferrolho nesta cidade.
E assim dizendo, tomou o braço de Billie e o removeu do cadafalso. Desceram o tablado de madeira diante de uma multidão silenciosa e a atravessaram sem que ninguém os impedisse. Foi então que Billie foi até a cela na qual ela estava presa e abriu-a para que saísse.






Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso.


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