quinta-feira, 25 de maio de 2017

LICENÇA POÉTICA


Poema publicado no livro ALÉM DA TERRA ALÉM DO CÉU
ED. Chiado



DÁ LICENÇA POÉTICA

Gardenia Yud

Quando eu nasci
 Um anjo corso 
 Do Atlântico,
 Usando chapéu tricórnio, 
— exalando maresia veio me ver, 
Anunciou a contra gosto: 
Vai viver do mar! 
Impensável sina para mulher. 
Monstros, dragões e piratas Vai ter que enfrentar.
 Se resistir— mangou—, aconteceu! 

 Mas no mar, anjo não sabe,
 não se vive, sonha —,
 só mulher para saber.
 Mareada, dança com a morte,
 Tapeada, acha que é príncipe.
 Aí vem a coragem, 
Ilusão de invencibilidade. 
No mar, louros e estrelas, após vencida a batalha,
 Pois o azul reflete o zimbório do terceiro céu.
 Mar é de ninguém,
 é de quem vencer.
 As lágrimas vem em ondas
 Numa caudalosa mistura 
De procela e ouro. 
Não evaporam, pois tem peso de glória.
 Vertidas no tumulto das guerras de outrora,
 ‘Se, há mortos, vivos e os que ‘andam’ no mar, Platão. 
Mulher no mar, é o quê?’
 Pergunta para o anjo corso, 
 Que eu também quero escrever.



domingo, 23 de abril de 2017

A ESCADA DE JACÓ - WILLIAM BLAKE



Um dos sonhos mais fascinantes relatados pela literatura é sem dúvida o da Escada de Jacó, no qual o patriarca bíblico visualizou anjos descendo e subindo uma escada que deixava a terra e tinha o seu topo no céu. Vários foram os artistas que tentaram interpretar em tela esta epifania. E cada um alcançou em seu próprio espírito o entendimento para reproduzir em cores este mistério. Mas para mim, nenhum deles alcançou em tela este intento como William Blake, o poeta, visionário e pintor inglês, marginalizado e negligenciado em seu tempo por sua originalidade e genialidade considerada um tanto quanto bizarra. Até mesmo a técnica que ele utilizou na época foi inovadora. Por sua espiritualidade e visões de anjos (que ele contava abertamente sem medo de parecer infantil ou esquisito), acredito que ele conseguiu captar melhor o brilho, o etéreo e também a materialidade da visão de Jacó em sua obra.  Muito de seu trabalho assemelha-se, em minha opinião, ao de Khalil Gibran, talvez pelas pinceladas de espiritualidade nas obras de cada um.