quarta-feira, 23 de março de 2016

COMPILAÇÃO DOS CAPÍTULOS DO ROMANCE ' A CASA' NA AMAZON (download gratuito)


A compilação dos Capítulos do Romance 'A CASA' estão em um Livro na Amazon.


Download Gratuito à partir do dia 24 de março de 2016.


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sábado, 19 de março de 2016

AS AVENTURAS DE LADY BEATRIX



NAVEGAR POR TERRA,


CÉU,


E MAR


É SEU DESTINO.





AS AVENTURAS DE LADY BEATRIX - PRÓLOGO

ESTE É O PRIMEIRO CAPÍTULO DE UMA SÉRIE INFANTO JUVENIL CHAMADA 
AS AVENTURAS DE LADY BEATRIX.

AS POSTAGENS DO BLOG SÃO GRATUITAS.

ESPERO QUE APRECIEM A LEITURA!






Lady Beatrix como alguns podem pensar não era de nobre estirpe, sangue azul não corria em suas veias. Era filha de um homem que já havia passado, e de cuja genealogia não se podia contar, um nômade, criador de poções, inventor de esquisitices imprestáveis, e adivinhador do tempo sem muito prestígio e exatidão.

Vivia a chamar-lhe de Lady pois dizia que num passado muito distante um nobre fizera parte da família. E seu batismo de Beatrix, ele a olhava com um brilho de afeição, era porque ela era sua estrela de navegação para a felicidade. Ela era uma viajante.

Sua mãe, ele declarou-lhe uma vez a título de explicações sobre laços familiares, morreu no parto.

— Mas antes me fez muitas recomendações sobre sua educação.

Porém, um tempo depois, Lady Beatrix ouviu uns buchichos, e começou a desconfiar que a mãe havia batido asas depois de cansar da vida de cigana que levava ao lado do marido.

Em uma noite fatídica depois de beber muito hidromel e cantar ao redor de uma fogueira, seu pai foi dormir e nunca mais acordou. Lady Beatrix entrou em choque. Estava só no mundo dos homens. Chorou, chorou sem saber como continuar, mas acabou por pegar o legado do pai — seu carroção e as muitas tranqueiras que carregava —, e continuou a peregrinar pelo mundo.

Prosseguiu em preparar as poções para fazer crescer os cabelos dos carecas. Fórmula esta, que de acordo com seu pai ativava a árvore capilar adormecida por causa de sustos mal resolvidos. Outras das poções de Lady Beatrix era a de fazer os magros engordarem e os gordos emagrecerem. É claro, que nunca ficava muito tempo em um lugar para ver se faziam efeito ou não. E de acordo com a posologia medicamentosa era necessário no mínimo sete luas novas fazendo uso do bálsamo para se verem os resultados, e dar tempo de ela sair estrategicamente da cidade.

Apesar de ter sentido muito a partida do pai, a menina superou a dor, afinal como dizia seu pai, o mundo não dá par quem precisa, só para quem abasta.

Lady Beatrix, do alto de seus quatorze anos erguia a barra do seu vestido lilás, único que tinha, jogava para trás os cachos castanhos, subia no carroção e fazia o velho pangaré andar.

Em uma de suas andanças, ao entrar em uma aldeia para vender uma de suas poções, viu-se em meio a uma algazarra. A população procurava por um malfeitor que havia roubado dois pães da padaria de Monsieur Pierre. Lady Beatrix teve pena do pobre coitado quando caísse nas mãos de tão ruidosa turba. Devido à comoção popular que queria de toda forma levar o gatuno a juízo, Lady Beatriz não teve muita sorte ao vender suas poções, o que a aborreceu, já que após uma rápida sondagem das pessoas que se aglomeravam na praça prospectou muitos clientes.

Conde Pauli, prefeito do vilarejo, discorria longo discurso sobre a necessidade de livrar a aldeia de gente de nível suspeitoso. Apesar de seu bigode fino e de pontas voltadas para cima, Lady Beatrix logo percebeu a ausência capilar do prefeito que tentava disfarçar o defeito com uma peruca longa, com cachos pretos que lhe dava uma aura de poder sombrio. Seu discurso estava recheado de palavras que lhe causaram certo desconforto, pois algumas perpassavam justamente pela natureza itinerante de Lady Beatrix

Esses errantes! Andarilhos! Todo cuidado é pouco!

O dono da padaria era um sujeito alto e magro, e a fórmula super vitaminada de seu pai lhe acrescentaria um bom recheio. Já o reverendo faria bom uso de sua receita de emagrecimento que para fazer efeito e misturar-se bem aos humores do corpo, fazia necessário que o usuário corresse 3000 braças após 1 colherada.

Sentiu muito, pois daquela vez perderia a oportunidade de fazer uma boa venda.

                                                                         ****


Logo será postado o próximo capítulo!




domingo, 13 de março de 2016

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

CALDAS BRANDÃO - UM PEQUENO CONTO DO DESTINO - CAPÍTULO 1

Recife - 1911

Os saltos de madeira emitiam um ruído oco sobre o chão lamacento, por causa da chuva da madrugada. Gotículas saltavam por todos os lados e salpicavam de pingos marrons a barra de sua saia. Comerciantes abriam as portas dos armazéns e feirantes expunham seus víveres em quitandas sobre a calçada, esperando os fiéis compradores. Em pouco tempo o local estaria abarrotado de gente. Mulheres em busca de uma pechinha e empregados, com cestos sobre a cabeça, enviados por seus patrões para conseguirem frutas e verduras mais frescas e carnes vermelhas, ainda cheirando a sangue fresco.

Os pés de Maria Gentil doíam. Estava desacostumada a usar aqueles sapatos, mas por desejar causar uma boa impressão, decidiu-se por carregá-los.

Apressou o passo quando chegou à rua onde os vestígios das mudanças aceleradas e atravancadas a deixavam irritada. A era das demolições e reconfigurações parecia não ter mais fim, ouvia-se, até, que estava apenas em seu começo. Era o começo do fim. Tudo seria rearranjado. O velho substituído pelo novo, pois o propósito era avançar, se para o bem ou para o mal, só o oráculo do futuro é quem poderia dizer. Ela seguiu pela Rua Bom Jesus e passou diante do Banco, que escondia em suas bases, fragmentos de uma cultura e fé execradas, como sua mãe costumava sussurrar aos seus ouvidos, entre as quatro paredes do quarto onde viviam, para que ninguém soubesse, sequer imaginasse, que elas, também, eram restos, que haviam sobrevivido teimosamente na superfície da vida através do tempo. As histórias ficavam amalgamadas no cerne da alma, mas se constituíam em um segredo a ser guardado e mentido no mundo dos homens. Um longo silêncio debaixo de pedras, que talvez, um dia, clamassem.

Suas vidas continuaram. Um reino decadente, diante do que um dia haviam sido e da promessa irrealizável do que poderiam voltar a ser. A mãe, viúva, com quatro filhos para criar só, vivera entre a lealdade a história de seus antepassados e a amargura, mas morrera de olhos abertos, enxergando um tempo de glória que nunca viveu, apenas ouvira falar, e que fez parte de suas fantasias de criança. Todos os dias, confrontada pela realidade da pobreza, à espera de dias melhores que nunca bateram a sua porta, chegou a confidenciar à filha, que talvez, o sangue deles afinasse ao longo dos anos, e, quem sabe, ela seria mais feliz. Deveria apenas calar.

O sol já ia alto, despistando o dia da atmosfera chuvosa, que havia tomado a noite anterior. Ela atravessou o largo do Corpo Santo com pressa, constatando num relance, o fim que se avizinhava, com a força inexorável de um juízo final.  O mundo ao seu redor desabava diante da ferocidade do progresso. Os pequenos seres que dele faziam parte, indefesos e assombrados diante do cenário apocalíptico que os abatia, corriam em busca de outro abrigo, como ratos, que acabam de ter seu valhacouto descoberto. Ela, também, corria em busca de amparo, antes que acabasse enterrada ali, debaixo dos escombros da desesperança, sem que houvesse bocas para contar sua história.

Seu salto ficou preso entre dois paralelepípedos de pedra portuguesa fixadas toscamente no passeio. Seu pé deslizou para fora do sapato e ela pisou no chão com a meia branca e fina, — a sua melhor —, deixando sua base úmida e marrom. Uma exclamação exasperada escapou de seus lábios.

Voltou dois passos para recolocar o pé no calçado, quando percebeu o brilho fosco, debaixo da água lamacenta e mal cheirosa. Removeu a luva e contendo o asco, enfiou os dedos através do líquido frio, trazendo consigo uma moeda de bronze. 40 réis. Os dizeres em filigranas rodeavam o número, num conselho, para quem tinha a geleia da cabeça laureada com esperteza: a economia faz a prosperidade. Sorriu agradecida para a sorte. Colocou o donativo na bolsinha e seguiu em frente, mais animada, mas não distraída. Queria impressionar pela pontualidade, por isso, saíra bem mais cedo de casa. Precisava ainda pegar o bonde, e as mulas não estavam mais a andar lépidas, como se também pressentissem que estavam a caminhar em direção a seu fim. A efemeridade coalhava o ar.

Fixou os olhos ao longe, em busca do movimento dos bondes, quando, inesperadamente, sentiu um puxão violento em seu braço, e seu chapéu caiu. ‘Aonde vai com tanta pressa, boneca?’

Seu coração disparou e a boca secou. Ainda que soubesse que aquele lugar era habitado por todo o tipo de gente, e ela estivesse andando sozinha, — vulnerável a todo o tipo de atenção desagradável —, em todas as suas idas e vindas, jamais fora abordada daquela forma por ninguém, ainda que percebesse alguns olhares de malícia vez ou outra.

O homem vestido em um terno escuro, não era qualquer. Embora estivesse com a barba por fazer e hálito alcoólico, suas roupas eram bem cortadas. Duvidava que fosse um boêmio, já que esses voltavam para casa ao raiar da luz da matina. Era na verdade um gatuno oportunista em busca de presas fáceis. E ela estava na vez.

Seu olhar feroz a arrepiou.

— Deixe-me! — ela puxou o braço, levada pelo sentimento de pavor e abaixou rapidamente para pegar seu chapéu.

Mas ao invés de se sentir acuado pelas pessoas que voltavam-se para eles com curiosidade, aproveitou o movimento que ela fez para recolocar o chapéu e puxou a bolsinha de tecido que segurava.

—Não! — gritou ela.

Ele a abriu, removeu todas as moedas, inclusive a que ela acabara de achar, desmanchou a dobra de um papel, que estava entre os parcos pertences encerrados na bolsinha, e leu atrevidamente seu conteúdo, — o endereço rabiscado do destino de Maria. Amassou-o desdenhoso e jogou longe.

Com o coração desfalecido, ela correu em busca do papel amassado e o resgatou com mãos trêmulas.

Ressentido pelo atrevimento dela em dar-lhe as costas, agarrou-apelo braço e arrastou-a, empurrando-a violentamente contra uma parede. O medo e o choque a impediram de falar. Seus olhos se arregalaram diante do rosto retorcido pela maldade.

— Não deves sair por aí, sozinha! — cuspiu contra seu rosto enquanto o segurava com mãos sujas e rudes.

Ela reagiu, empurrando-o com toda sua força e escapou dele. Mas como que para afrontá-la, perseguiu-a, beliscou sua nádega e deu uma gargalhada zombeteira.

Maria correu com o coração na mão. Os sapatos horríveis a maltratavam e por pouco ela não os deixou no meio do caminho. Ainda podia ouvir atrás de si o ranço maldoso de sua risada. Só parou quando chegou diante do arco arquitetônico amarelado que fazia fronteira com a longa escadaria da igreja. Olhou para trás ofegante e percebeu que estava segura.

Sua mão direita segurava a bolsinha vazia e a esquerda apertava furiosamente o papel amassado. Imaginou que sua aparência estaria deplorável. Todos os fios de cabelo que ela havia cuidadosamente arranjado, desalinhados. E se sua face espelhava o que estava em seu interior, as pessoas poderiam enxergar o assombro.

Quando finalmente seu coração não mais pulsava em sua garganta, ela enxugou a face com o lenço perfumado com lavanda, que para sua sorte havia deixado no bolso da saia verde musgo e as mãos grosseiras não haviam tocado. Respirou profundamente a fragrância, para que ela invadisse seus sentidos. Um soluço quis escapar de seus lábios, mas ela o abafou. Não era o momento para sentir pena de si mesma.


Tentou arrumar os cabelos como pôde e marchou como um soldado diante da guerra iminente e inevitável, sabendo que nada mais o espera adiante, a não ser, a morte. O bonde vinha lentamente. Ela o parou, entrou e não pagou. O guia, com seu bigode escuro de pontas viradas para cima e chapéu da Pernambuco Street Railway ficou olhando para ela inquisidoramente, esperando pelo tilintar das moedas. Ela baixou os olhos, deixando metade da face encoberta pelo chapeuzinho ornamentado com minúsculas flores, lilás e rosa, como se assim pudesse ficar invisível. Ele fez um muxoxo com a boca e enrugou a testa. Murmurou palavras ininteligíveis consigo mesmo e seguiu adiante com a direção.