DÁ LICENÇA POÉTICA PRÁ MIM TAMBÉM.
Gardenia Yud
Quando eu nasci
Um anjo corso
Do Atlântico,
Usando chapéu tricórnio,
— exalando maresia
veio me ver,
Anunciou a contra gosto:
Vai viver do mar!
Impensável sina para mulher.
Monstros, dragões e piratas
Vai ter que enfrentar.
Se resistir— mangou—, aconteceu!
Mas no mar, anjo não sabe,
não se vive, sonha —, só mulher para saber.
Mareada, dança com a morte,
Tapeada, acha que é príncipe.
Aí vem a coragem,
Ilusão de invencibilidade.
No mar, louros e estrelas,
após vencida a batalha,
Pois o azul reflete o zimbório do terceiro céu.
Mar é de ninguém,
é de quem vencer.
As lágrimas vem em ondas
Numa caudalosa mistura
De procela e ouro.
Não evaporam,
pois tem peso de glória.
Vertidas no tumulto das guerras de outrora,
‘Se, há mortos, vivos
e os que ‘andam’ no mar, Platão.
Mulher no mar, é o quê?’
Pergunta para o anjo corso,
Que eu também quero escrever.