sábado, 9 de maio de 2015

AUSÊNCIA

Eu havia deixado a porta aberta.

Mas, isso, havia sido a tantos anos atrás. Talvez, ela estivesse esperando por alguém. Um outro alguém, não eu.

Não alertei sobre minha chegada. Entrei ressabiado, sem saber, o que encontraria, ou quem. Quais sentimentos estavam à minha espera. Estava preparado para recebê-los. Passo a passo fui trilhando palmos de meu passado. O azul da parede da sala, já esmaecido, precisando de uma nova pintura. As mesmas fotos penduradas, numa linha horizontal reta. Como sempre. Apenas a poeira sobre os móveis, era incomum.

Senti o aroma de rosas de seu perfume espalhado no ar. Sútil, mas evidente. Ela estava próxima, embora não a visse. Caminhei até seu quarto, que havia sido nosso. O mesmo lençol sobre a cama. O vestido que teria sido usado naquela noite, para a festa na praça, para a qual não fomos, estava em um cabide, e dançava só, ao sabor do vento, diante da janela.

Lembrou-se das últimas palavras que saíram de sua boca, duras e sem sentimentos. De seus passos resolutos em direção a saída.

Ouviu um, ‘não vá’, que agora, lhe doía na alma.

Tudo era como naquele dia, só ela não estava lá. Apenas encontrou a solidão, que havia deixado para trás.


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