Eu havia deixado a porta aberta.
Mas, isso, havia sido a tantos anos atrás. Talvez, ela estivesse esperando por alguém. Um outro alguém, não eu.
Não alertei sobre minha chegada. Entrei ressabiado, sem
saber, o que encontraria, ou quem. Quais sentimentos estavam à minha espera. Estava
preparado para recebê-los. Passo a passo fui trilhando palmos de meu passado. O
azul da parede da sala, já esmaecido, precisando de uma nova pintura. As mesmas
fotos penduradas, numa linha horizontal reta. Como sempre. Apenas a poeira sobre os móveis, era incomum.
Senti o aroma de rosas de seu perfume espalhado no ar. Sútil, mas evidente. Ela estava
próxima, embora não a visse. Caminhei até seu quarto, que havia sido nosso. O
mesmo lençol sobre a cama. O vestido que teria sido usado naquela noite, para a
festa na praça, para a qual não fomos, estava em um cabide, e dançava só, ao
sabor do vento, diante da janela.
Lembrou-se das últimas palavras que saíram de sua boca,
duras e sem sentimentos. De seus passos resolutos em direção a saída.
Ouviu um, ‘não vá’, que agora, lhe doía na alma.
Tudo era como naquele dia, só ela não estava lá. Apenas encontrou a
solidão, que havia deixado para trás.
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